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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Bu!!!!



Era tarde da noite pessoas vazias caminhavam ao meu redor seus passos ainda ecoando em minha mente, disperso em meus pensamentos, ora via um lábio, uma mão, um olhar. Somava estes e a imagem que se formava pouco fazia sentido, pouco me importava que fizesse. Estavam todos borrados, manchados por suas imperfeições, falhas, por sua existência vaga e desnecessária. Eram tão inúteis! Se pudesse os matava a todos! Mas eram muitos, e não tinha tempo... Tão pouco animo, precisava pensar avaliar o que havia feito. Se havia provas. Lembrava-me de seu olhar pouco antes da morte... Pouco antes que eu saísse e a deixasse lá estirada de sua vida infeliz e imagem perfeita – linda. Era linda sim, e me assustava sua beleza, me assustava como a admirava. E o prendimento que me transmitia diante de seu esplendor. Eu era e seria sempre seu escravo. No começo queria sê-lo, mas nos últimos dias, depois de tanto tempo, mesmo sua imagem perfeita, escravizadora começara a me assombrar. E me assustava ainda mais que a portadora de tal beleza também me amasse, isso me deixava absorto, talvez estivesse mentindo para mim, esperando pelo momento em que me faria sofrer. Talvez estivesse usando de minha vaga utilidade para então, após enjoar da corriqueira relação entre senhora e escravo, então me libertasse para uma calma, libertadora e desoladora morte, que para ela, seria para mim um deleite depois de ter estado por algum tempo em sua presença.
Tais pensamentos começaram a me ocorrer cada vez mais, a cada sinal de amor que ela me dedicava, era como se estreitasse o tempo de vida que ainda me restava.
Temia-a mais a cada dia. Cometia-me um susto mortal quando nos esbarrávamos nos corredores, era então insuportável sua presença, não suportava o doce som de sua voz proferindo palavras de amor. Temia seus olhos e desejava que eles escurecessem, cegassem, quando ela me olhava fingindo respeito e admiração.
Nesta noite livrei-me de meus tormentos. Já não suportava mais! E quão grande foi meu temor quando que no meio de meu pesadelo cheio de imagens dela e de seus sorrisos, ela me abordou com um beijo, enquanto dormia, ela desejava me acordar delicadamente... Trocar falsas carícias. Felizmente não teve muito tempo.
Ao acordar de sobressalto materializando sua imagem cravei minhas unhas em seu pescoço num aperto fatal, enquanto minhas mãos me proporcionavam em deleite indescritível e extremamente prazeroso de ver-me livre de meu maior objeto de espanto.
Mas seus olhos ainda repousavam sobre mim, fitando,  isso me dava náuseas, e num instante ela respirou por entre seus malditos lábios uma pergunta:
 – Por que... ? – Palavra esta que se perdeu no tempo enquanto sua alma expirava.
Era como que um “Búú!” horrível que o fantasma de minha vida me sussurrasse. Assombrava.
Rajadas de medo me faziam apertá-la ainda mais forte. Não conseguia enxergar corretamente, estava chorando. Não por ela, mas por mim. Que como um escravo fiel dava-lhe o prazer de torturar uma ultima vez seu “privilegiado” escravo. Privando-o de sua beleza...
Ah! Como era perfeita sua beleza...
Não se assemelha nem um pouco a daquela caminhante, sua mão sequer pode ser equiparada à mão daquela estranha, seus lábios eram como que diamante em relação à um grão de areia, comparados àqueles lábios daquela que cruzou meu caminho à pouco, e seus olhos...
Seu último olhar...
... Se me arrependesse, o que jamais será o caso, me sentiria satisfeito ainda assim por tê-la privado da vida, simplesmente por ter vislumbrado aquele ultimo e perfeito olhar.
Que nunca havia visto antes, e que por toda minha vida lembrarei.
Valerá à pena cada instante enclausurado quando me prenderem, pois não o farão pela morte da Sta. Ruth, serei preso, privado dos prazeres da vida pelo mais puro, perfeito e único olhar de Sta. Ruth, minha Ruth.



22, Cecilya. 29 de out. 2012.